quinta-feira, 26 de março de 2015

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

ano um

passa      gem     do     tempo   para    o                                          tempo
passa      tempo
passa
o
tempo
e com ele, a dor, menina

domingo, 26 de janeiro de 2014

Vão, escritores

Este não é um blog pessoal. Quer dizer, é e não é. É um blog pessoal porque aqui exponho os meus escritos - uma barreira que consegui ultrapassar, já que tais textos refletem minha personalidade. E não é um blog pessoal porque aqui eu só exponho os meus escritos - e nada mais.

Entretanto, eu não deveria deixar de comentar sobre uma experiência particular que me fez alçar alguns voos em dois dias; e servirá pr'eu decolar, por tempo indeterminado, até alcançar as nuvens. 

Explicando de forma minimalista, o Go, Writers é um curso de criação e escrita fora do convencional. Não existem regras e fórmulas mágicas para se aprender a escrever. O objetivo do curso é te fazer sair dali com a cabeça a mil, cheia de ideias, explodindo de vontade de fazer (e continuar fazendo) aquilo que te faz bem. É enorme a interação entre o grupo, graças ao carisma da professora e escritora Cris Lisbôa, que puxou 32 pessoas totalmente desconhecidas, em um único final de semana, para o mesmo rumo.

Pausa: poucos lugares são tão bonitos e inspiradores para ter uma avalanche de brainstorm quanto o Parque Lage.

Posso afirmar que o curso veio pra mim na melhor hora possível. Só me fez reforçar a ideia de como precisamos ter algo que nos inspire, motive e impulsione. É necessário rodar o nosso próprio mundo, independentemente da forma escolhida, para podermos enxergar com clareza que o mundo lá fora também não para de rodar. É uma experiência a qual compartilho e incentivo você, por exemplo, a procurar o curso, caso deseje, pois é de grande ajuda. Se não for desta forma, vá à caça de algo que possa procurar a si mesmo; e, principalmente, encontrar-te.

[uma nota de rodapé para não me esquecer: escreva, criatura. Escreva um degrau de cada vez; e suba junto]

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Lembrete

Tinha a promessa de que voltaria a escrever em breve.
Aliás, tal promessa é vaga. "Escrever" pode ser qualquer coisa. Hoje mesmo escrevi umas contas de matemática e uma breve lista do que não poderia esquecer de fazer durante o dia.
Não incluí "escrever" porque, para mim, é algo que faço corriqueiramente. Entretanto, minha promessa, dita ali em cima, era escrever algo... indefinido, aparentemente. Talvez algo que eu tinha o hábito em fazer, algo que eu sentia prazer em fazer, algo que eu sabia fazer. Será que ainda sei?

Irônico dizer que não incluí "escrever" em minha lista de afazeres a não serem esquecidos sendo que "Don't forget to write" é um dos meus lemas favoritos. É um trecho de uma das músicas que eu mais gosto "La Ferrassie", da banda canadense Tokyo Police Club. Não é por pura coincidência que dá nome a este blog. Já pensei seriamente em tatuar tal frase; falta-me o dinheiro e a coragem de passar pela dor.
Esquecendo tais pontos, por que "Don't forget to write" é tão forte a ponto d'eu desejar marcá-la na pele?
A frase possui tamanho significado para mim não somente pela música, mas também pelo o que me quer dizer. "Não se esqueça de escrever", neste caso, não parece ser uma imposição a mim mesma, a qual teria escrito em uma lista qualquer que logo após ao seu ato, seria descartada; mas sim, um lembrete para eu não me esquecer de quem sou.

Nós somos quem nós construímos. Desde que me entendo por gente, construí-me em palavras, que se firmaram em diferentes pontos da vida. Aquelas utilizadas pr'eu me expressar através da escrita se perderam por um tempo por falta do mesmo.
Felizmente, posso avistá-las de longe, correndo, almejando voltarem a seu lugar de origem. Afinal, o bom filho a casa torna.

sábado, 20 de abril de 2013

Angústia

o medo
piraamentesufocaopeitodescontroiofeitoesfriaoquente/arazãoseperdeonóseinstalaagargantaexalaeotempocede/otempoce de otempo cede o tempo cede.../passa o caos e há reconstrução/frases encaixadas em um tempo br ev e /lo go a alma nov(a m e n t e)  f i c a   l e v e/e   n   c  o n t r a d a    f   o r a     a     s    o l u   ç ã o

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sistema de dor unificada

Meio-dia de uma ensolarada segunda-feira no Rio de Janeiro; mais precisamente, dia sete de janeiro. Este era o momento exato em que Cláudia começou a preparar o almoço. Mesmo atarefada com o prato do dia – afinal, a dúvida era se começava a ralar a cenoura ou a cozinhar o feijão –, ela notou e estranhou o fato do filho João Carlos não ter acordado desde então. Certo que era temporada de férias e ele realmente precisava descansar – afinal, seu ano anterior foi bem puxado por conta do vestibular –, mas o menino nunca foi de levantar muito tarde.
– Bom dia, mãe. – logo se ouviu a voz sonolenta de João ecoando pela cozinha. Sua aparência aparentava cansaço.
– Finalmente, hein, filho? O que houve?
– Ah... Eu fiquei acordado até tarde ontem por causa do Sisu.
Ao ouvir a frase, Cláudia entrou em pânico.
– Como é?! Por que não me contou antes?
– Ué... – João estranhou um pouco o elevado tom de voz utilizado pela mãe, demonstrando surpresa – ontem foi o primeiro dia.
– Ai, João! – Cláudia respirou fundo – Podia ter me acordado!
João riu um pouco do modo como a mãe estava.
– Não precisava.
– Como você 'tá se sentindo?
– 'Tô normal, mãe... Logo essa fase passa.
Ela novamente aumentou o tom de voz, transmitindo ainda mais irritação:
– Como você pode ser tão otimista com isso?!
– Graças a Deus que eu sou otimista, né? – João devolveu a resposta, ainda achando tudo mais estranho. A mãe sempre o apoiara e ele realmente não entendeu o motivo dela ter agido dessa forma. As mães pegam as dores dos filhos, mas não precisava ser tanto assim por conta do vestibular!
– Ai, João... Eu não sei, isso não pode ser resolvido tão tarde assim...
– Relaxa. Hoje é segunda-feira, tenho até sexta para ver isso do Sisu com calma.
– Até sexta? É muito tempo! Não acha que vai piorar?
– Piorar vai sim, mas faz parte, só me resta esperar.
– Bom, se você diz... – Cláudia não entendeu o motivo da espera do filho, mas demonstrou mais calma – vou continuar a preparar o almoço, mas pelo visto, já sei que terá que ser uma comida mais leve pro senhor.
“Ela ta se preocupando tanto assim com isso que quer até que eu coma algo mais leve? O que seria mais leve? Salada?”
– Eu não quero salada, mãe! Aí sim que eu vou ficar ainda mais ansioso e nervoso com o que tá acontecendo. Prepara aí um bife com batata-frita.
– Bife com batata-frita? Você enlouqueceu, João? Vamos combinar que você já 'tá meio acima do peso, quer ficar com ainda mais dor de dente?
– Você é tão legal! Obrigado mesmo pela parte que me toca e... Peraí,  você disse “ainda mais dor de dente”?
– Claro! Foi o que você me disse!
– Quê? Mãe, você 'tá bem?
– Claro que eu 'tô bem, João Carlos! Que pergunta besta!
– Eu não falei nada de dor de dente.
– Acho que quem não tá bem é você... Ficou falando aí que ficou acordado até tarde por causa do siso... 'Tá doendo muito? 'Tá delirando de dor, é isso?
Naquele momento, João começou a rir, deixando a mãe ainda mais nervosa.
– Por que você 'tá rindo, João Carlos?! Tenho cara de palhaça?
– MÃE! – ele disse ainda rindo mais. Não tinha nem ideia de como a mãe era exagerada e até meio grossa, vamos combinar – Eu não estou com dor de dente, nem meu siso nasceu! Eu estava falando do Sisu, que significa Sistema de Seleção Unificada. É um site onde o estudante que prestou o ENEM escolhe duas opções de curso em qualquer faculdade pública de qualquer estado do país, desde que essa tenha aderido ao ENEM. Dependendo da nota de corte do candidato, ele vê por meio da nota de corte do curso, que é gerada através de quantas pessoas também se candidataram para aquele curso com aquele número de vagas, se pode passar ou não. E isso é atualizado às duas da manhã todos os dias, até sexta-feira.
Cláudia, até então tensa, respirou aliviada.
– Ahhhh! Viu só como fica mais claro quando você me explica?
– Você não tinha nem perguntado... Mas pensando bem, mãe, até que você 'tá certa em uma coisa.
– Em quê?
– Sisu bem que combina com siso mesmo. Ambos são chatos, incomodam, nos deixam nervosos... Acho que o Sisu, no fundo, ganhou esse nome por ser uma tremenda dor de dente.
– Você é tão bobo, João... – Cláudia riu com a analogia do filho, sendo seguida por ele – Se depender da explicação gigante que você me deu, tenho certeza de que você passa para o que você quiser.

João Carlos, tendo o pai morando no interior do Paraná, resolveu cursar Engenharia por lá. Deixou a mãe morrendo de saudades e de preocupação em como seria a vida do filho sem ela por perto. Um pouco antes dele ir para a sala de embarque do aeroporto, ela disse: “Vê se vai ao dentista regularmente!”.
Resultado: um mês depois, começava a nascer o siso de João.

sábado, 5 de janeiro de 2013

A mais poderosa influência

[escrito e originalmente postado na comunidade do orkut "Escritores - Fakes" em 05 de junho de 2010; editado em 05 de janeiro de 2013]

– Com licença, senhor Coração?
– Eu mesmo, jovem. O que desejas?
Era inacreditável. Depois de tanto tempo, eu estava cara a cara com ele, o todo poderoso do sistema vital. Foram inúmeras tentativas de chegar perto, todas elas fracassadas. Mas, finalmente, eu estava ali.
Modéstia à parte, fiz um bom trabalho driblando os seguranças, que cercavam a entrada do tão temido local.
– Nossa... É muito estranho estar aqui, tão perto do senhor.
Ele me olhou de cima a baixo, contendo certa incerteza em seu olhar.
– Por acaso o jovem não é nenhum terrorista, certo? Já tentaram me atacar uma vez, quase parei de exercer minha função.
Nunca imaginei ver o poderoso chefão com medo de... mim. Não sou inofensivo, confesso. Mas a minha aparência é tão boa e tão leve, não assusta ninguém. Vê–lo ali, prestes a me expulsar de seu canto, me fez sentir superior. Com todo o respeito.
– Medo? Senhor, não precisa ter medo. Não sou terrorista. Só gostaria de lhe pedir um favor.
– Então que seja rápido. Estou muito ocupado no momento, trabalhar sozinho não é nada fácil.
Era exatamente aquilo o que eu precisava ouvir para meu dia melhorar.
– Exatamente isso que eu gostaria de lhe perguntar. Eu sei que isso parece medonho, vindo de um estranho como eu. Eu posso trabalhar com o senhor?
Lembro até hoje do temor que o senhor Coração sentiu. Até então calmo, ele começou a movimentar–se centenas de vezes mais, o que me fez sentir bem. Eu estava provocando sensações não só nele, como no ser humano o qual penetrei seu corpo.
Os tais movimentos eram as famosas "batidas". O emprego do senhor Coração, que garante a vida do tal ser humano. Eu estava prestes a piorar ou melhorar a sua vida.
Uau, eu ter esse poder dentro de alguém? Eu sou muito importante mesmo.
– Eu sei exatamente o que você quer. Saia daqui.
As palavras, ditas tão friamente pelo Coração, me fizeram desistir por uma fração de segundo.
Apenas uma fração.
– Então o que eu quero?
– Mudar a vida da pessoa para qual eu trabalho. Isso não é nobre, não é correto.
É, ele sabia bem.
– Achei que o senhor concordasse comigo. Não vê que este ser humano está precisando de mais emoção? Não acha que, por bem ou por mal, isso não vai mudar sua forma de ver e de viver a vida? Por favor, senhor Coração. Eu sou o mais puro sentimento que nutre dentro de alguém. Somente o senhor pode colaborar comigo.
O vi suspirar e voltar ao normal. Quando pensei que ele fosse hesitar novamente, ele me fez uma ordem:
– Aproxime-se.
E lá fui eu, quebrando todas as barreiras que tinha enfrentado para estar ali. Eu o tinha convencido. A hora era aquela.
Novamente, as batidas aceleraram–se. Eu sabia exatamente o poder que estava tendo sobre ele e sobre o ser humano, prestes a cair em uma armadilha tão esperada como eu.
– Qual é seu nome, meu jovem?
– Amor.
Quando terminei de pronunciar a última sílaba, as batidas já eram frenéticas. Aquilo era, definitivamente, um "sim".

Tanto que estou até hoje aqui, trabalhando junto com o senhor Coração. Sobre o ser humano o qual invadi? Sim, a sua vida mudou. Não sei se para melhor ou para pior; mas sei que estou sabendo exercer bem a minha função.